31 julho 2007

Péricles no CCB


Partir, ir para longe daquilo que deveremos ser, incapazes de sermos guias de nós próprios, incapazes de sermos guias de uma família, de um povo, um exemplo para uma ideia a seguir; fugir para se encontrar e voltar, com o tempo que desenhou sobre o nosso corpo o mapa do nosso vaguear, do nosso ser enquanto pesquisadores nómadas.
Péricles persegue um exemplo, um mestre em quem inspirar-se para ser rei; no texto todo ele nunca diz ser Péricles rei de Tiro; sabe que não o pode ser; que uma vida não lhe chega para poder ser rei: isto é, aquele que, eleito pelo povo e pelos Deuses, deve poder ser um exemplo de nobreza e de ética humana.
Em cada porto um reino, em cada reino um povo, e um rei.
Apenas quando encontrará o rei bom, Péricles poderá apaixonar-se para dar vida, para gerar um ser nobre, mas os deuses ainda o castigam tirando-lhe tudo, atirando-o de novo para as ondas do destino, num mundo que não escolhe mover-se, mas que se deixa mover, pelas forças da natureza, e pelas forças divinas...
[…]
As personagens são vectores de emoções que vão desengonçar o papel para chegar a alguma coisa de fortemente íntimo e poéticoTodos serão um coro da alma, um coro que "para cantar um canto que em tempos foi cantado das cinzas voltou..."
Regressar do mundo dos mortos, para contar uma história de um pai e de uma filha... o renascimento, o nascimento de uma nova possibilidade. O coro comenta, olha, explica, diverte-se, fica de fora da dor e das alegrias, para ter um olhar objectivo, mais límpido do que aquele dos deuses, mas intimo como aquele do grande Poeta, ao qual voltamos a cada vez para reiniciar a viagem...

Do coro tudo nasce e tudo regressa, como se o coro fosse a tinta, o rio que o poeta derramou sobre os lençóis brancos que envolvem as nossas íntimas e pequenas histórias humanas: lençóis, sudários, velas, berços, ondas... mas sobretudo páginas brancas...
Do coro tudo nasce e tudo regressa, como se o coro fosse a tinta, o rio que o poeta derramou sobre os lençóis brancos que envolvem as nossas íntimas e pequenas histórias humanas: lençóis, sudários, velas, berços, ondas... mas sobretudo páginas brancas...

Antonio Latella

1 e 2 de Agosto 2007


1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei ... inteligente.
Ana