António Rezendes in olhares.com
Depois de um longo e rigoroso Inverno, está aí a Primavera, com as suas promessas de vida nova, que nem ao nosso olhar citadino escapam. A temperatura, os dias mais longos, as árvores, as flores, os pássaros, tudo nos fala de um novo começo, algo está prestes a acontecer! As alterações na Natureza não são meros acontecimentos exteriores, mas dizem algo de profundo acerca de nós mesmos. Embora tecida de um único fio, que nunca regressa ao mesmo ponto, a nossa vida também tem estações: Verão, Outono, Inverno, Primavera alternam em nós, dando forma ao nosso estado de espírito, marcado por alegrias e esperanças, tristezas e angústias.
Estes ciclos não serão um eterno retorno do mesmo, desprovido de sentido, na medida em que nos deixarmos habitar por uma promessa, que os sinais desta época do ano nos recordam. Todo o construir, que começa com o árduo e escondido trabalho das fundações, só é possível quando os olhos e o coração estão postos em algo que nos ultrapassa, que vai além do aqui e agora: um encontro, uma relação, um projecto, um sonho…
A Igreja, neste tempo de preparação para a Páscoa, propõe-nos a imagem das cinzas para falar desta promessa. Sinal de destruição, de perda e de fragilidade, as cinzas são também fertilizante para uma nova plantação. A história de cada um é feita deste pó da terra que ora cai, ora se levanta, animado pelo sopro do desejo de uma vida mais plena, nunca totalmente alcançada e frequentemente desbaratada. No meio das incertezas do dia-a-dia, o Deus de que nos fala a Bíblia apresenta-se como o garante desta Promessa: não vende facilidades nem regateia favores, mas com simplicidade promete-nos: “Eu estarei convosco”. Será suficiente para continuar a caminhar? O que nos espera por detrás da próxima curva?
António Ary in essejota.net
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