08 junho 2006

Lisboa em festa! :)

As marchas populares de Lisboa nasceram em 1932, concretizando uma ideia original de José Leitão de Barros – então director do Notícias Ilustrado, realizador de cinema, promotor cultural e homem próximo de António Ferro (responsável pela política cultural do Estado Novo) – como resposta a uma encomenda do director do Parque Mayer, Campos Figueira: era preciso criar em Junho desse ano um espectáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas.

O sucesso popular foi tal que o concurso haveria de regressar, agora em 1934. A autarquia chamou então a si a organização das marchas e integrou-as no que chamaria de Festas da Cidade. Doze bairros, cada um com uma marcha, saíram para a rua e desfilaram com música, traje e coreografia inspirados num tema que se pretendia que reconstituísse um uso ou costume local, entoando canções que recuperavam o cariz popular.

Em poucos anos, a cidade apropriou-se das marchas como símbolo de uma identidade perdida entre o rural e o urbano que, embora uma novidade enquanto celebração do santo popular de Lisboa, convivem e até potenciam a tradição dos arraiais e bailes populares.

Desde então, a autarquia lisboeta, agora em colaboração com a Egeac, tem sido responsável pela organização das festas tradicionais do mês de Junho.

Manifestação de unidade e identidade cultural, as Festas de Lisboa centram-se nos festejos dos Santos Populares – fiéis à sua vertente tradicional através das Marchas e Arraiais populares –, embora apostando também em novas experiências, redefinindo conceitos e espaços culturais, convocando para tal agentes culturais e todas as forças vivas da cidade, num movimento de rara dimensão.

As Festas de Lisboa estão classificadas, no site Local Festivities (site holandês independente que faz o ranking dos melhores festivais da Europa, segundo critérios de dimensão, continuidade, originalidade, capacidade de gestão das organizações e divertimento inerente ao evento), entre os 50 melhores festivais europeus, posicionando-se à frente de outras também importantes manifestações europeias, de que são exemplo a Feira de Abril em Sevilha ou as Festas de S. Isídro em Madrid.

Este ano, as Festas de Lisboa regressam ao coração da cidade: Castelo de São Jorge, Parque Mayer, Avenida da Liberdade e Cinema São Jorge serão palco de muitos e variados espectáculos. Durante todo o mês, a cidade estará animada pelos tradicionais arraiais e na Torre de Belém realizam-se em Julho duas grandes produções: Cesária Évora e o África Festival.

Participação Internacional – Itália
Espectáculo da festa tradicional "Gigli di Nola", Nápoles
Desfile no Rossio, 10 Junho, 21H "Abbattimento" do obelisco, 11 Junho

Festa dei Gigli (Nola, Itália)Associando-se às Festas Populares de Lisboa e inscrito no projecto "Festas em Trânsito" – que pretende dar a conhecer anualmente as festas religiosas mais importantes da Europa – terá lugar no dia 10 de Junho, pelas 21h00, na Praça do Rossio, a exibição de uma das manifestações culturais mais representativas da tradição italiana, relacionadas também com a vertente sagrada, e que decorrem em Itália no mês de Junho. Esta iniciativa decorrerá a partir do dia 5 de Junho, com a montagem artística de um obelisco de 25 metros de altura (em madeira e pasta de papel), estrutura que será lançada ao chão, num espectáculo impressionante, no dia 11 de Junho, após o desfile de 10 de Junho.

Este espectáculo foi produzido pela EGEAC, E. M. em parceria com Sete Sóis Sete Luas (Centro de Artes de Rua de Santa Maria da Feira), no âmbito do intercâmbio cultural realizado entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Município de Nola (Itália).

A "Festa dei Gigli" (lírios) celebra-se em Nola, a 22 de Junho. Se este dia não coincide com o domingo, os festejos são adiados para o domingo seguinte. Trata-se de um festejo no âmbito das celebrações de algumas divindades libertadoras. A divindade à qual o povo de Nola dedica esta festa desde o final do século V é S. Paulino.

A festa, mesmo na sua actual organização e com um cunho seguramente cristão, deixa transparecer origens bem mais remotas, ligadas aos ritos da fertilidade e das colheitas; motivos estes, comuns a numerosas civilizações, sejam mediterrâneas e ocidentais, ou de matriz nórdica.

Os Gigli
Inicialmente eram pequenos castelos, que se tornaram cada vez mais altos, adornados geralmente com flores. Até 1700 eram arrastados com cintos, mas foi-se sentindo a necessidade de elevar o Giglio, introduzindo-se as barras e os homens para o manter elevado. O uso da música aparece mais recentemente, embora existam já testemunhos do século passado.

Existem actualmente três "Botteghe" - Tudisco, Vecchione e Scotti – que levam adiante e tenazmente esta tradição originada em Nola, presumivelmente na época Barroca.

A festa dei Gigli pode ser repartida em diversas etapas, orgânicas e funcionais entre elas. A primeira fase inicia-se no momento em que, com disparos de morteiros, é anunciado à população que os novos Mestres de Festa se empenham oficialmente na construção dos Gigli para o ano seguinte, assumindo os encargos da despesa.

A segunda fase compreende o ritual da "mudança da Bandeira" entre o velho e o novo Mestre de festa, com uma cerimónia que permaneceu mais ou menos inalterável nos últimos dois séculos.

A terceira fase tem início no domingo anterior ao da "Festa", com o transporte dos "Gigli descobertos" (a única máquina em vigamento de madeiras, apenas ornada de bandeiras, algum feixe de flores e a imagem do Santo) dos locais de construção ao do "posicionamento" (junta às habitações dos respectivos Mestres de festa). Continua com o momento de "vestir" os Gigli , nos dias anteriores ao domingo da "Festa", vivendo-se o primeiro momento espectacular na noite de sábado, com a homenagem aos Gigli por parte dos comités e da exposição "na praça" dos Gigli, com música, cantos e performances de vários géneros. Esta fase continua a 22 de Junho, dia do Santo, com a procissão e os outros ritos religiosos, no qual participam os representantes das corporações, as autoridades civis e militares, o Bispo e diversas ordens religiosas. O "Clou" da Festa é o domingo de manhã: neste dia, de facto, as estruturas alinhadas, revestidas com baixos-relevos de massa de papel, são levadas em procissão para a Piazza Duomo para homenagear o Santo. Estas são carregadas aos ombros dos vários "Paranze" . De vez em quando, por mando peremptório, os Gigli são pousados no chão: esta paragem significa essencialmente uma homenagem a alguém, embora responda também à necessidade do embalador descansar para poder reorganizar a sua própria força.
Transportado cada Giglio até à praça, efectua-se então "ballata" (dança) ou "cullata" (embalamento), cujas notas são emitidas por tocadores sentados sobre o obelisco, enquanto se ouve a voz de um cantor. No final, o Bispo inicia a bênção.

A quarta fase da Festa, a menos religiosa, é fortemente caracterizada por comportamentos estranhos, de especial euforia: os Gigli dão a volta à cidade, segundo um percurso predefinido e praticamente inalterado desde o século XV. A Festa conclui-se com o regresso de cada um dos Giglio "a casa", à espera de serem transportados, no dia seguinte, para a Piazza Palazzo di Citta, pelas pessoas da Câmara Municipal, jovens, rapazes e velhos. Os Gigli permanecem nesta praça durante dois ou três dias, segundo um calendário de festejos fixado pela Autarquia.

1 comentário:

Anónimo disse...

sai a che ore è l'abbattimento, la domenica? s.