12 junho 2006

Por falar de Angola...


Velha Chica

Antigamente a velha chica
vendia cola e gengibre
e lá pela tarde ela lavava a roupa
do patrão importante;
e nós os miúdos lá da escola
perguntávamos à vóvó Chica
qual era a razão daquela pobreza,
daquele nosso sofrimento.
Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

Mas a velha Chica embrulhada nos pensamentos,
ela sabia, mas não dizia a razão daquele sofrimento.
Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.
E o tempo passou e a velha Chica,
só mais velha ficou.
Ela somente fez uma kubata com teto de zinco, com teto de zinco.
Xé menino, não fala política, não fala política.

Mas quem vê agora
o rosto daquela senhora, daquela senhora,
só vê as rugas do sofrimento, do sofrimento, do sofrimento!
E ela agora só diz:"- Xé menino, quando eu morrer, quero ver Angola viver em paz!
Xé menino, quando morrer, quero ver Angola e o Mundo em paz!"

canta Dulce Pontes com Waldemar Bastos

O Primeiro Canto - Dulce Pontes

«No princípio havia os quatro elementos. No princípio, Dulce Pontes imaginou um disco onde a água, a terra, o fogo e o ar representassem uma unidade, a harmonia de todas as coisas, o regresso ao essencial, àquilo que faz sentido: Por isso lhe chamou "O primeiro Canto". Neste disco, Dulce Pontes, mostra, uma vez mais, que o Fado é apenas uma das suas referências mas está longe de ser o único espaço disponível para a sua fantástica voz.
O disco parte de uma miniciosa descida às fontes da música popular portuguesa, com um exaustivo trabalho de recolha de sons, vozes e instrumentos - desde o som dos passos na dança tradicional do Fandango até aos coros dos cantares rurais do Alentejo, a região mais pobre e esquecida de Portugal. Neste fantástica viagem, quase antropológica às "fontes do som", Dulce Pontes e a sua equipe de produção reinventaram, redescrobiram, reconstruíram instrumentos musicais em desuso e tão diversos como a Moraharpa, o Tambor oceano, a Sweedish bag pipe ou a Valilha de Madagáscar.
A ideia de Dulce foi fazer um disco "limpo", puramente acústico, sem sintetizador nem guitarras eléctricas em que a sua voz servisse como o fio que une influências cuturais tão diferentes, demonstrando que, na sua nudez inicial a música é uma linguagem própria e universal e a voz é apenas mais um instrumento ao serviço dessa unidade.
Na escrita e na selecção dos temas do álbum, vamos também encontrar os sinais da sua atenção ao mundo dos homens que a rodeia, quer seja nos temas que reproduzem os cantares dos trabalhadores do campo ou no pranto da velha angolana por um país devastado pela guerra, nessa magnífico duo com Waldemar Bastos ("Velha Chica").
Este é segundo ela "o meu disco mais delicado". Aquele em que a voz é um instrumento aos serviço de uma sensibilidade da "vontade de comunicar" - o que é afinal, o essencial daquilo que a move.
Põe-se o "primeiro Canto" a tocar e a voz de Dulce Pontes enche imediatamente a sala e toma conta de todo o ambiente. Se experimentarmos afastarmo-nos e vaguearmos pela casa sentiremos que a sua voz nos segue, envolvente, densa, intensa. Como fogo e terra, ar e água, tudo reunido, como no princípio de todas as coisas.
Miguel de Sousa Tavares

Que mais posso dizer? Aconselho vivamente :)))

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