Os Leprosos também são homens
São homens leprosos. A necessidade de o afirmar decorre da triste realidade do abandono e segregação que sofrem aqueles que têm a infelicidade de contrair a doença da lepra. São homens que vivem em extrema pobreza, devorados pela fome e em condições insalubres. Atingidos por uma doença que, ironicamente, só ataca os seres humanos, arrastam e suportam o peso de uma tradição milenária que os rotula de amaldiçoados, cúmplices e merecedores de castigo, pelo que são repelidos da convivência social. Os leprosos são doentes como quaisquer outros. Têm uma doença curável; são dignos do mesmo respeito, titulares dos mesmos direitos e sujeitos às mesmas leis que os outros homens. O estigma social que os fere é um golpe fratricida que empobrece a história do homem sobre a terra. É preciso reconhecer que os homens que levam uma vida confortável não têm tido a coragem de praticar o gesto humano mais primário que é o de acolher e tratar os seus semelhantes que contraíram a doença. É preciso reconhecer que o homem são que rejeita o (homem) leproso, enferma de uma lepra mais mortífera e desumanizante - o egoísmo. Quem poderá deixar de sentir que tem direito ao acolhimento e tratamento porque contraiu uma doença contagiosa? Há milhões de homens entregues a si próprios, escondidos nos seus tugúrios, sozinhos com a sua dor, noite e dia, porque, um dia, na sua extrema miséria, foram vítimas da lepra. A lepra é uma doença de pessoas pobres: crianças, jovens, adultos. A cura dos leprosos não consiste só em dominar o bacilo, em medicamentar os doentes. É, em primeiro lugar, um trabalho do coração, do amor, força que destrói preconceitos, que faz apertar a mão ao leproso, abraçá-lo e dizer que todos somos irmãos, como testemunhou Raoul Follereau com a própria vida. Como dizia este grande humanista do séc. XX, "o homem leproso tem duas doenças: a lepra e o ser leproso. O seu sofrimento físico e moral faz dele o ser mais infeliz da humanidade". E continua Follereau: "Por ter visto com os meus olhos a imensa penúria dos leprosos no mundo, gritei: Iremos nós deixar morrer, apodrecer, 15 milhões de seres humanos que são nossos irmãos, agora que temos a possibilidade de os curar?... Só é impossível que nós, gente terrivelmente feliz, continuemos a comer, a dormir e a rir, enquanto à nossa volta o mundo chora, sangra e desespera". Sentimos no mais fundo do nosso ser que o Mundo só se libertará de todas as lepras e será feliz, quando o amor, a grande arma que derruba barreiras e une os homens fraternalmente, tomar conta dos nossos corações.
Rosa Celeste Ferreira Presidente da APARF
Rosa Celeste Ferreira Presidente da APARF
http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia.asp?noticiaid=41631
Associação Portuguesa de Amigos de Raoul Follereau
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